quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Mesmo na frente, Google enfrenta seus dilemasVolta
Valor Econômico
José Sergio Osse
04/10/2007
Na corrida dos serviços de busca na internet, o Google é um cavalo que está algumas voltas à frente dos demais. Em agosto, a companhia respondeu por 56,5% de todas as pesquisas on-line feitas nos Estados Unidos, mais que o dobro do Yahoo (23,3%) e muito acima da Microsoft (11,3%), segundo e terceiro lugares no ranking elaborado pela empresa de pesquisa comScore. Mas isso não significa que a companhia não tenha preocupações. Na semana passada, a Microsoft lançou um serviço quatro vezes mais potente que o anterior e há poucos dias o Yahoo revigorou seu mecanismo - dois movimentos que não passaram despercebidos pelo mercado.
"Por enquanto não os vemos ganhando terreno sobre nós", diz Sukhinder Singh Cassidy, vice-presidente de operações do Google para América Latina e Ásia-Pacífico. "Ainda assim, sabemos que na internet qualquer coisa está a apenas um clique de distância e precisamos estar preparados", afirma a executiva.
O Google mantém um núcleo de pesquisas de aplicativos on-line, o Google Labs, que desenvolve e testa novidades que podem ou não vir a ser incorporadas ao site principal da empresa. Recentemente, a companhia integrou à sua página de busca ferramentas que vão além dos links de texto e incluem vídeos e fotos, algo que os concorrentes também têm buscado nos serviços oferecidos em alguns países. Além disso, o Google também tem se mostrado hábil em acrescentar serviços populares fora da área de busca, como o YouTube (de vídeos), o Picasa (de fotografia) e a rede social Orkut.
O foco, no entanto, continuará no negócio original, diz Sukhinder. "Para nós, a busca on-line é a plataforma em que tudo o mais se apóia. Se não tivermos uma base sólida, para a qual os usuários migrem e considerem relevante, nada mais importa. É ótimo ter produtos como o YouTube e coisas assim, mas nosso bastião é mesmo a busca."
Uma das prioridades da companhia é investir no conteúdo localizado, em que os resultados indicam produtos e serviços que estão fisicamente próximos do usuário. "Não adianta, numa pesquisa por filmes, o resultado apresentar o que está passando em um cinema em Nova York, sendo que estou em São Paulo", diz Sukhinder. "Oferecemos um serviço decente na América Latina, mas ainda não fazemos tudo o que podemos. Precisamos aprofundar a qualidade de nossa experiência."
Além da concorrência, há pelo menos dois outros temas no horizonte do Google: a privacidade e seu próprio gigantismo.
Em abril, a empresa anunciou que pagaria US$ 3, 1 bilhões pela DoubleClick, que interliga anunciantes, agências de publicidade, sites de internet e usuários. Trata-se de um movimento importante: os anúncios on-line são a principal fonte de receita do Google e o controle da DoubleClick ajudaria a fortaleceria seu domínio na web. A Microsoft, por exemplo, seguiu esse mesmo caminho e mais recentemente adquiriu a aQuantive, da mesma área.
O movimento do Google, no entanto, provocou o protesto dos concorrentes e, por enquanto, está emperrado nas agências antitruste dos EUA e da Europa: as autoridades querem saber se a influência do Google na internet não passou da medida.
Sukhinder minimiza o risco de uma eventual derrota e diz que se o negócio não vingar "o Google achará uma forma de chegar à posição em que estaria com a DoubleClick". As medidas que ela cita, no entanto, mostram que esse não seria o caminho mais confortável. Segundo a executiva, a companhia poderia desenvolver internamente as tecnologias necessárias ou adquirí-las de de forma pulverizada.
O outro desafio do Google, referente à privacidade, é particularmente agudo no Brasil. O ponto central é a rede social Orkut, que se tornou mania no país - 55,3% dos seus cerca de 60,1 milhões de usuários são brasileiros. O site, em que os participantes trocam mensagens, fotos e vídeos entre si, tornou-se foco de tensão quando a Justiça brasileira começou a solicitar informações pessoais de suspeitos de envolvimento com atividades ilegais, como pedofilia e crimes de ódio. Recentemente, o pedido das informações - que tinha de ser enviado aos EUA - foi redirecionado à filial brasileira.
"Não queremos atrapalhar as autoridades, mas não posso simplesmente oferecer informações sobre um usuário toda vez que alguém bate em nossa porta. Temos que seguir o que manda a lei", diz Alexandre Hohagen, presidente do Google no Brasil. "Todas as vezes que recebemos autorização da Justiça para liberar informações pessoais de um usuário à polícia, realizamos isso."
O Google quer ganhar dinheiro com o site, diz Sukhinder, mas por questões como a encontrada no Brasil a empresa ainda não considera o serviço pronto. "Temos que limpar o Orkut e fortalecer seus filtros. Apenas depois disso é que vamos pensar em monetizar o produto", afirma a executiva.
(Colaborou João Luiz Rosa, de São Paulo)
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