quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Celebre a inovação além dos gadgetsVolta
É preciso parar de cultuar apenas objetos glamourosos como os iPods, diz catedrático
Revista Época Negócios
Álvaro Oppermann
Edição 8 - Outubro 2007
Nem só de lampejos geniais vive o processo de inovação no mundo da economia. Isso pode ser uma verdade lapidar, mas ela nunca foi tão repetida como nos últimos tempos. Segundo David Edgerton, professor de tecnologia do Imperial College de Londres, para entendermos a inovação, devemos deixar de nos concentrar apenas em aparelhinhos fabulosos, como o iPod da Apple ou o novo modelo de celular, e abrir o foco para as coisas tidas como comuns. Fazendo eco ao professor inglês, o norte-americano Larry Keeley, presidente da consultoria Doblin Inc. - especializada em processos de inovação eficiente -, elaborou recentemente uma lista das coisas mais inovadoras da história econômica moderna. Nela não faltam itens como o bom e velho contêiner. Sem ele, diz Keeley, seria impossível a revolução na cadeia de distribuição de bens e mercadorias no mundo. Quando o tópico são os grandes inovadores, Edgerton vai ainda mais longe: "Ao analisarmos a história do uso da tecnologia nas sociedades, enxergamos que tão importante quanto inventar algo novo é saber pegar emprestado o que foi inventado pelos outros, utilizando o que é útil e descartando o inútil". Segundo o professor, a história nos mostra que alguns dos países mais progressistas do século 20, como a China e o Japão, não se destacaram - até recentemente - como grandes inovadores.
Ainda, a inovação não deve pautar apenas a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos como também moldar a própria mentalidade das sociedades capitalistas. Como isso se dá? Keeley demonstra que um dos motores do capitalismo americano foi uma inovação jurídica simples, mas decisiva: o conceito da responsabilidade limitada. "Uma sociedade com limitação de responsabilidades significa que o indivíduo não está em risco pessoal quando a empresa para a qual trabalha - ou na qual ocupa até um cargo de direção - comete um erro", diz o consultor. Isso fomentou a tomada de riscos na história da economia dos EUA. Keeley observa que tal conceito, apesar de universal nos códigos civis, não é assimilado culturalmente em países como a Rússia, um dos fatores que ajuda a emperrar a inovação no país. "Na época da bolha da internet, uma delegação russa em visita ao Vale do Silício ficou muito surpresa de saber que os principais executivos das companhias pontocom em bancarrota não estavam atrás das grades, mas, sim, ocupando cargos importantes em outras empresas", diz ele.
Por fim, Edgerton alerta que, enquanto tivermos a percepção de que a inovação deve ser sempre brilhante e grandiosa, corremos o risco de manter inalterado o estado das coisas - o que pode ser catastrófico quando se pensa em questões prementes como o aquecimento global. "Muitos analistas falam da necessidade de novos investimentos para soluções em tecnologia que serão postas em prática em cinco, dez ou 20 anos. Não há tempo para isso. A maior inovação, relativa a essa questão, seria as pessoas acordarem para o fato de que as soluções devem ser buscadas agora, mesmo que sejam simples", conclui.
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